Um ex-projetista da Fórmula 1 criou um carro ecológico que pode ser a solução
para o congestionamento nas grandes cidades.
O veículo ocupa um terço do espaço de um carro convencional quando
estacionado, é tão estreito que pode dividir uma mesma faixa de rua ou pista com
outro automóvel e é construído à base de materiais reciclados.
Sua manufatura dispensa grande parte da maquinaria pesada usada pela
indústria automobilística hoje e requer apenas 20% do capital necessário
atualmente.
Herói dos amantes do automobilismo, Gordon Murray desenhou, entre outros, a
McLaren dirigida por Ayrton Senna quando o brasileiro venceu seu primeiro
campeonato na Fórmula 1.
Há seis anos, o projetista abandonou as corridas e, levando consigo a mesma
equipe de engenheiros que trabalhava com ele na McLaren, saiu em busca de um
novo desafio: construir o minúsculo T 25, um carro urbano que, ele espera, vai
revolucionar a forma como automóveis são construídos hoje em dia.
Carro ecológico T 25
O carro de Murray é construído à base de fibra de vidro, garrafas de plástico
recicladas e tubos ocos de aço. Ele utiliza um quinto dos materiais necessários
para se construir um carro convencional.
O veículo leva três passageiros, pesa 575 kg, tem 240 cm de comprimento, 130
cm de largura e 160 cm de altura.
O T 25 alcança a velocidade máxima de 145 km/hora e deve custar em torno de
US$ 9 mil.
Segundo seus idealizadores, um carro como esse teria o potencial de impedir
engarrafamentos nas ruas e estradas do mundo, tendo em vista projeções de que o
número de veículos no planeta deva atingir 2,5 bilhões por volta de 2020.
Ele também pode permitir que milhões de pessoas realizem seu sonho de ter um
carro - mas consumindo menos recursos vitais para o planeta, como água, energia
ou aço.
Carro sem portas
O objeto que concretiza a visão de Murray está guardado em um prédio modesto
em uma região industrial em Surrey, no sudeste da Inglaterra.
O T 25 não tem portas. Para entrar nele, é preciso erguer a cabine do
motorista.
Seguindo o padrão dos supercarros da Fórmula 1, o motorista se senta sozinho
na parte dianteira do carro, no meio do veículo, com os dois assentos de
passageiros localizados na parte traseira.
Também seguindo o modelo da F1, o T 25 é construído com materiais compósitos
- e apenas os mais baratos.
Os painéis do corpo do carro e o monobloco (ou base) são reforçados com fibra
de vidro, que custa muito menos do que a fibra de carbono, diz Murray.
"Algumas das fibras são (agrupadas em padrões) aleatórios, algumas são
entrelaçadas e outras são unidirecionais - isso é mentalidade de Fórmula 1",
disse Murray à BBC.
A estrutura está fixada em uma armação feita com um tubo de aço que "sozinho,
não é forte o suficiente".
Murray explica, no entanto, que uma vez que o monobloco é colado ao tubo, em
um processo similar à forma como as janelas de um carro são fixadas no corpo do
veículo, ele se torna "tão resistente e seguro como um carro convencional".
Manufatura flexível
Segundo Murray, o processo de fabricação dos carros criados por sua equipe,
batizado de iStream, é flexível e barato.
Ele dispensa as instalações gigantescas das fábricas convencionais e grande
parte da maquinaria pesada e altamente poluidora, como as grandes prensas que
fabricam componentes de aço e as soldadoras.
Para fazer qualquer modificação no tamanho da armação ou na forma e cor do
corpo do carro, basta reescrever o software, explica Murray.
Ou seja, uma mesma linha de produção pode fabricar modelos diferentes em um
único dia.
Dessa forma, a fábrica do futuro pode ser menor e mais barata, além de poluir
menos.
Propriedade Intelectual
Gordon Murray explicou que o objetivo de sua equipe é projetar carros que,
ele espera, sejam produzidos em massa muito em breve.
Além do modelo para três passageiros, Murray e sua equipe - composta por 30
engenheiros - estão secretamente desenvolvendo vários desenhos diferentes -
veículos para dois, cinco e oito passageiros, além de um ônibus.
Ele enfatiza, no entanto, que seu objetivo não é fabricar os carros e, sim,
mostrar ao mundo o que sua equipe é capaz de fazer.
"Sou conhecido como um projetista, minha equipe constitui uma empresa de
engenharia, mas na verdade a essência do nosso negócio é propriedade
intelectual."
"Quero vender tantas licenças iStream para tantas pessoas e para tantos
carros diferentes quanto possível, no mundo inteiro", diz Murray.
Carro barato
O argumento final de Gordon Murray em favor de seu carro visionário, no
entanto, é econômico.
O uso de componentes mais baratos, em menor quantidade, e uma estrutura de
fabricação menor, oferecem aos fabricantes cortes tremendos nos custos e reduz
os riscos do investimento.
"A fábrica que constrói um carro iStream - qualquer que seja a forma ou o
tamanho do carro - tem cerca de 20% do investimento de capital e 20% do tamanho
de uma planta convencional de fabricação", ele disse. "E (usa) cerca de a metade
da energia".
"Nós rasgamos o manual de regras e o jogamos pela janela," finaliza ele. (
do inovação tecnológica )