Em 1991, na função de curador do
Museu Wallraf Richartz, em Colônia, Alemanha, ele recebeu um telefonema anônimo
de uma senhora, informando que uma tela de Claude Monet (1840-1926), original e
bem preservada, estava à sua disposição.
Guardada numa caixa de papelão no porão da misteriosa mulher, a obra só seria
cedida sob determinadas condições: a doadora queria permanecer anônima e o Monet
só poderia ser exibido após sua morte.
Museu Wallraf Richartz |
"De início, não levei a senhora muito
a sério", confessa Czymmek. "Ela insistiu que eu levasse imediatamente o quadro
comigo, pois não queria tê-lo em casa. Assim, dirigi de volta a Colônia com um
Monet numa caixa de papelão, no banco de trás do meu carro."
O curador nunca mais viu a doadora,
embora, pelo menos uma vez por ano, ela lhe enviasse uma breve mensagem: "Ainda
estou viva!". Neste meio tempo, ela faleceu, e Götz Czymmek ficou livre para
revelar seu segredo.
"Cena primaveril em Vétheuil"
Muitas obras de arte são doadas ao
museu, porém ganhar de presente uma tão valiosa assim, só acontece uma vez na
vida, comenta o curador. "Frequentemente recebemos pinturas e estamos felizes
com as muitas aquisições, mas às vezes esses quadros nos chegam por não serem
vendáveis, e geralmente estão em más condições", explica.
Au-dessus de Vétheuil – Effet de
printemps (Acima de Vétheuil – Efeito primaveril) é uma exceção. Tendo como
motivo uma cena na cidade onde Monet viveu de 1879 a 1881, ele foi identificado
como um original de 1880. Trata-se de um momento-chave na vida do artista. Foi
em Vétheuil que sua esposa Camille faleceu, e que ele conheceu sua segunda
companheira, Alice.
Na primavera de 1880, o artista
realizava sua primeira exposição individual, após recusar-se a participar da 5ª
Mostra de Pintura Impressionista, em Paris, sinalizando, assim, o intento de se
distanciar de seus contemporâneos. Foi nesse ano também que ele lançou as bases
de sua pintura paisagística, as quais vigorariam pelo século 20 adentro.
O cheiro da autenticidade
'Margem do Sena perto de Port Villez' foi declarado falsificação |
Em 2008, descobriu-se que o suposto
Monet Margem do Sena perto de Port
Villez, exposto no Museu Wallraf Richartz desde 1954, era uma falsificação.
Porém Czymmek está absolutamente
seguro de que o Monet inédito é verdadeiro. E, como prova, aponta na parte de
trás da tela, para um velho selo da Galeria Bernheim-Jeune de Paris, que vendeu
algumas peças daquele expoente do Impressionismo.
Só que selos podem enganar, ressalva
Von Lüttichau. São certamente um indicador, porém são conhecidos casos de
pinturas que se revelaram falsificadas, "apesar de terem os selos certos atrás".
"Para mim, decisiva é a experiência de ver – até de cheirar – a pintura. Só
assim se pode dizer que seja autêntica."
Götz Czymmek relata que a idosa
doadora entrou de posse da paisagem na década de 1940. Assim, não se pode
excluir a possibilidade de que os nazistas a tenham roubado do proprietário
anterior, durante a guerra. "Contudo a pintura já foi divulgada há alguns meses,
e até agora ninguém a reclamou."
Efeito primaveril está exposta ao
público na sala impressionista do Museu Wallraf Richartz, que celebra 150 anos
de fundação em 2011 ( da Deutsche Welle ).
* Atualmente no Grand Palais em Paris está havendo uma exposição sobre Monet. Saiba mais AQUI