Em Copenhague, em dezembro de 2009, discutimos a salvação do planeta e agora discutimos como salvamos o Haiti.
No primeiro caso ficou claro que o assunto não era salvar o planeta da forma que os ambientalistas e muitos grupos econômicos gostariam. Prevaleceu o pragmatismo, a visão econômica, ou seja, o impacto das medidas de mitigação das mudanças climáticas nas economias e as suas conseqüências políticas
Nos EUA, a visão pragmática de um Congresso de um país com uma economia em recessão foi vencedora mesmo que seu Presidente procurasse ser o líder mundial da solução equação economia x clima.
A famosa economia verde, empregos verdes, tem por trás a visão econômica, mas só será viável se houver um acordo internacional para taxar o CO2. Na Europa, líder nas mudanças climáticas, o aumento da dependência externa de combustíveis fósseis força a busca de outras energias alternativas e para manter sua competitividade industrial, pois terá uma energia mais cara e produtos menos competitivos, precisará que os outros países tenham uma energia com mesmo custo.
Esse exemplo a nossa agroindústria tem muito vivo com as barreiras de sanidade animal impostas pelo Europa para proteger seu mercado. Cabe salientar que, segundo estudo da Universidade Juan Carlos de Madri (2009), para cada megawatt verde a Espanha perdeu 5,38 empregos, devido ao alto custo da energia gerada por energias renováveis o que levou empresas espanholas a se deslocar para países com custo de energia mais baixo, deixando a Espanha, em 2009, com um dos mais altos níveis de desemprego da Europa (18,83% da população ativa).
Em recente visita a Abu Dhabi – Emirado Árabes Unidos -, presenciamos a corrida tecnológica que está por trás desta indústria verde. O projeto Masdar, cidade de carbono zero (caros elétricos, prédios verdes, etc) e a captura e o armazenamento de carbono – CCS – fazem parte deste processo. A revolução tecnológica verde passa por uma corrida onde quem terá a tecnologia espera vendê-la para os outros pobres mortais. Como esses últimos pagarão a conta, essa é a pergunta que fica no ar.
Creio que as mazelas de um pobre povo do Haiti, expostas ao mundo por várias semanas, possam servir para que se reflita, como a pobreza e a miséria estão presentes no mundo e como esses pobres poderão pagar um custo adicional na sua conta de energia para salvar o planeta.
O pífio acordo de Copenhague prometeu ajuda 30 bilhões de dólares até 2012 para os países pobres para investir no combate ao aquecimento global. Lembremos-nos das metas do Milênio da ONU para 2015, foram cumpridas? Bill Gates, do alto de sua fortuna e filantropia, questionou, se esse dinheiro não iria sair dos fundos que estariam destinados ao combate da miséria, pois isso causaria mais danos que benefícios. Pois o que o Haiti e Copenhague tem em comum basta refletirmos.
Fernando Luiz Zancan é presidente da Associação Brasileira do Carvão Mineral