domingo, 5 de julho de 2009

Os índios, o clima e o desenvolvimento a qualquer preço

Os índios enauenê-nauês constroem, em épocas de cheia, barragens tradicionais para pescar os peixes que serão consumidos ao longo de quatro meses no ritual yakwã. Mas a última pescaria foi um desastre devido as mudanças climáticas.
Todos os anos, nas épocas da cheia e da piracema, quando ocorrem as migrações anuais para reprodução, os enauenê-nauês constroem barragens tradicionais, as waiti. Tramas de cestos e troncos filtram a passagem das águas do rio Juruena e seus afluentes, no norte do Mato Grosso. E capturam toneladas de peixes, que são consumidos ao longo de quatros meses no ritual yakwã. A última pescaria dos enauenês, porém, foi um desastre. "Os espíritos devem estar zangados", conta o velho xamã Kawali*.

Os mais jovens respeitam o alerta de Kawali - na crença da tribo, um dilúvio pode alagar o mundo, e ele viria de uma barragem mitológica -, mas sabem que o clima e o regime de chuvas estão mudando, temem pela devastação da mata ciliar e acusam as obras de barragens para usinas hidrelétricas como responsáveis pelo fim dos peixes. A bacia do rio Juruena comporta 85 projetos de usinas. São 55 em estudo, e outras 30 já em construção, em operação ou outorgadas, de acordo com a Empresa de Pesquisa Energética.

Enquanto tentam compreender as mudanças que afetam suas terras, os índios começam a se adaptar aos novos tempos. Sem pesca, conseguiram que a Funai comprasse 3 toneladas de tambaqui na cidade de Juína. (national geographic).


*Dias depois de conceder a entrevista à National, o xamã Kawali faleceu, vítima de uma picada de cobra

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