terça-feira, 17 de novembro de 2009

Internet à 200 Mbps

A internet pela rede elétrica promete até 200 Mbps de banda mesmo em lugares remotos.

Datas como Dia das Mães, Dia das Crianças e Natal eram um tormento na Associação de Comércio Municipal de Santo Antônio da Platina, no Paraná. Bastava uma parte dos 42 mil moradores decidir fazer compras a prestações para a paciência da equipe ficar por um fi o. O problema não era a média de 100 ligações diárias de consultas de crédito, mas a lentidão da internet. Distante 370 quilômetros de Curitiba, o município é fraco em conectividade. Apenas 2 500 pessoas têm acesso ao serviço de banda larga prestado por uma única operadora.

Uma possível solução surgiu em março. Veio pela tomada, com velocidades de até 10 megabits por segundo. Essa taxa de transferência é dez vezes maior do que os atendentes da associação estavam acostumados a usar. Junto com outros 300 moradores, eles estão participando dos testes da Companhia Paranaense de Energia Elétrica, a Copel, com acesso à internet pela rede elétrica.

Embora a tecnologia não seja novidade para as companhias de energia elétrica, agora a internet pela rede elétrica (que recebe o nome de Broadband Power Line, ou BPL) pode atingir até 200 Mbps. O percurso dos bits pelos cabos elétricos é semelhante ao caminho na rede telefônica. Como na tecnologia ADSL, o sinal da internet também passa por uma espécie de modem, batizado de head-end ou master, antes de chegar à rede de alta tensão. De lá, ele é transportado na faixa de frequência que vai de 1,8 MHz a 38 MHz. Apesar de a energia viajar numa onda de 60 Hz e não interferir no sinal de internet, ele pode se enfraquecer no caminho. Para compensar a perda de potência, é preciso usar repetidores que reforçam o sinal até a chegada às tomadas das residências. Lá, um modem faz a ponte da internet para o computador. Nos testes, os resultados têm agradado às pessoas. “Não foi necessário furar paredes ou passar cabos. Só colocamos o modem na tomada. Na hora, a internet começou a funcionar”, diz Rodrigo Teixeira, secretário-executivo da Associação de Comércio Municipal de Santo Antônio da Platina.
A simplicidade da instalação, aliada ao fato de que a rede elétrica alcança 98% do território nacional, tem deixado muita gente entusiasmada com a nova opção de acesso. “Há lugares no Brasil, como Belém, no Pará, em que as outras redes não funcionam bem, e outros a que elas nem chegam”, diz Thienne Johnson, pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP). “Essa pode ser uma alternativa barata e com qualidade para essas regiões”, afirma ela.

Os principais passos burocráticos para que a internet por rede elétrica seja realidade já foram superados. Depois de pelo menos cinco anos de testes e discussões, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) definiu, em abril, as regras para a operação do serviço. No final de agosto foi a vez de a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) regulamentar o serviço. A esperança é que a BPL democratize o uso doméstico da internet, chegando aos 129 milhões de pessoas que não têm acesso à rede em casa.

Nos Estados Unidos, a tecnologia foi autorizada em 2004. Mas só agora empresas como a IBM apresentaram planos para alcançar as áreas rurais. O motivo para a repentina ressurreição do interesse pela tecnologia são os investimentos de mais de 4,5 bilhões de dólares em projetos de expansão da rede de banda larga, determinados pelo presidente Barack Obama. A companhia International Broadband Electric Communications (IBEC) oferece pacotes com velocidade de 256 Kbps a 3 Mbps para regiões de vazios demográficos com até três domicílios por quilômetro quadrado. Os preços variam entre 30 e 90 dólares.

As principais dúvidas em relação à BPL são quanto a interferência que os aparelhos elétricos exercem sobre ela. Lâmpadas fluorescentes, furadeiras, batederas e outros equipamentos que consomem muita energia estão entre os vilões. Mas, de acordo com Orlando César Oliveira, coordenador do empreendimento PLC da Copel, a instalação de filtros nos disjuntores e tomadas da residência reduz o problema.

Pelas regras da Anatel, antes de iniciar uma operação comercial, as empresas devem fazer uma varredura da área para verificar se há conflito com sistemas de radiocomunicação. “As empresas precisam demonstrar que a BPL não está causando interferência”, afirma Marcos de Souza Oliveira, gerente de engenharia de espectro da Anatel. Para impedir que a BPL prejudique o sinal dos equipamentos, a prestadora de serviço deve instalar filtros do tipo notch, que impedem a transmissão de dados nas frequências já ocupadas por outros sistemas.

No quesito segurança, a BPL segue os mesmos padrões impostos aos outros sistemas. “Ela se comporta como a maioria das outras tecnologias de acesso. A única diferença é o meio”, afirma Nicolas Maheroudis, diretor de projetos BPL da Eletropaulo.

No Brasil, além da Copel, a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) e a Eletropaulo, que atende a Grande São Paulo, declararam a intenção de oferecer o serviço. A empresa paulista planeja lançar nos próximos meses. Cidades como Barreirinhas (MA), Goiânia (GO), São Paulo (SP) e Porto Alegre (RS) estão testando o sistema. De acordo com os coordenadores dos testes, ainda faltam ajustes. Espera-se que, pela rede elétrica, o acesso doméstico à internet possa dar um salto do patamar registrado no fim de 2008, quando estava presente em 23,8% das casas do país. (info)

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