sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Trono poderoso

Onde há sujeira, há dinheiro – ou algo semelhante, diz o velho ditado. Os cínicos podem sugerir que isto se refira à questão de quem leva o quê, mas os leitores atentos podem ser perdoados por pensar, enquanto estão se recuperando dos excessos das Festas no menor aposento da casa, o que acontece exatamente quando puxam a descarga.

A resposta é animadora. Cada vez menos resíduos, atualmente, são realmente jogados no lixo. Em vez disso, são usados para gerar o biogás, uma rica mistura de metano que pode ser empregada para aquecimento e para a geração de eletricidade. Além disso, numa época em que há muita preocupação com a eficiência energética, os avanços tecnológicos estão espremendo cada vez mais as fezes humanas, para liberar até a última gota do material.

Produzir biogás significa provocar artificialmente às fezes o que aconteceria naturalmente, se fossem simplesmente despejadas no meio ambiente ou deixadas a degradarem a céu aberto em uma estação de esgoto tradicional. Ou seja: tomar medidas para que esses dejetos possam ser degradados por bactérias. Capturar o metano resultante tem um duplo benefício: tanto produz energia como também impede que um potente gás do efeito estufa seja liberado na atmosfera.

Tanque cheio

Vários grupos estão testando maneiras de tornar mais eficiente o processo pelo qual as fezes são digeridas em metano. A GENeco, subsidiária da Wessex Water, uma empresa britânica de serviços públicos, usa o calor. Em vez de funcionar à temperatura corporal, o processo da empresa primeiro aquece o excremento a 40°C por vários dias. Em seguida, transfere o líquido para um tanque de fermentação cinco graus mais frio.

Este sistema de dois tanques produz mais metano que os métodos convencionais, pois os diferentes tipos de bactérias, que degradam diferentes componentes das fezes, funcionam melhor em temperaturas diversas. O resultado de dar a diversos grupos de organismos a chance de operar em seu ambiente ideal é, segundo Mohammed Saddiq, chefe Geneco, responsável pela produção cerca de 30% maior de metano, se comparada a uma determinada quantidade de excrementos.

Na Alemanha, uma equipe do Instituto Fraunhofer de Stuttgart, liderado por Walter Trösch, está usando uma abordagem diferente. Dr Trösch reduziu o tempo levado para digerir o esgoto de duas semanas para uma, empregando um sistema de bombeamento da mistura. Isso funciona mais rápido que os métodos tradicionais por duas razões: a primeira é que a agitação faz com que o metano borbulhe para a superfície mais rápido. Do ponto de vista das bactérias, o metano é tão resíduo como as fezes são do ponto de vista humano. Ajudar este veneno a escapar permite que as bactérias sobrevivam mais tempo e, portanto, produzam metano ainda mais.

A segunda razão é que a mistura do lodo move as bactérias para longe de pedaços que já foram digeridos e as leva para um material “fresco”, que ainda não tenha tido muito contato com outras bactérias. O resultado é uma digestão mais rápida do todo. O sistema de bomba de Fraunhofer, que já foi implantado em 20 plantas de esgoto no Brasil, Alemanha e Portugal, opera por apenas algumas horas ao dia, não requerendo uma grande quantidade de energia.

Infelizmente, isso não é verdade na abordagem utilizada por pesquisadores do Tema Institute in Linkoping University, na Suécia. Eles estão desenvolvendo uma técnica que utiliza ultra-som, em vez de bombas, para quebrar o lodo. Isso eleva a produção de metano em 13% mas, no momento, o processo de geração do ultra-som consome mais energia do que produz.

A consequência de técnicas como estas é que uma proporção cada vez maior de esgoto está sendo usada como matéria-prima para geração de energia. Os alemães já processam cerca de 60% de suas fezes desta forma, e os checos, ingleses e holandeses estão logo atrás (veja quadro abaixo).

A GENeco calcula que na Grã-Bretanha esse valor atinja 75%, até o final de 2010, suficiente, quando convertido em eletricidade, para atender até 350.000 lares. As fezes são o alimento que foi processado pelo sistema digestivo humano para extrair ao máximo a energia útil. Uma quantidade enorme de resíduos de alimentos, porém, nunca entrou na boca de alguém, e esta é uma fonte ainda mais promissora de biogás.

Nos Estados Unidos, em particular, numerosas estações de tratamento começaram a processar alimentos não digeridos em grandes quantidades, ao longo de 2009. Este é o resultado de uma política de colaboração entre a Agência de Proteção Ambiental do país e seu Departamento de Energia, para incentivar a reciclagem de resíduos alimentares dessa forma.

Na Grã-Bretanha, contudo, a política pública desencoraja tal atividade. Estações de tratamento de água devem pasteurizar os restos de comida antes que sejam processados, de acordo com Michael Chesshire, o chefe de tecnologia da BiogenGreenfinch, uma empresa que modifica digestores de esgoto para utilizar restos de comida. Este é um grave desperdício de dinheiro. (do the economist/agenda sustentável).

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