Logo abaixo das ruas de Barcelona, existe uma outra malha de tráfego. A uma
profundidade de 5 metros, o lixo de casas, escritórios e até hospitais da
capital catalã viaja a uma velocidade de cerca de 70 quilômetros por hora por
meio de 113 km de tubulações, rede a vácuo que literalmente suga os resíduos
produzidos pela população. Todas as vias conduzem aos mesmos destinos, centrais
de armazenamento onde o material é processado, estocado em contêineres e
finalmente levado a estações de reciclagem ou de incineração.
A chamada coleta pneumática, desenvolvida pela empresa sueca Envac,
transformou a gestão de resíduos de Barcelona desde que foi adotada, no início
dos anos 90. Hoje a cidade tem 30% do lixo coletado em oito pontos. Cada uma
dessas malhas subterrâneas é independente, conectada por dutos a uma central
específica. Pode parecer futurista demais, mas existem 600 redes semelhantes
espalhadas por 150 cidades de todo o planeta.
As vantagens ambientais são muitas: o fim dos caminhões de lixo, a diminuição
das pilhas de sacos nas ruas e o estímulo à coleta seletiva, já que cada tipo de
resíduo - reciclável, não-reciclável e orgânico - é lançado na rede subterrânea
separadamente e vai para contêineres próprios.
"A ausência de caminhões de lixo evita odores, acúmulo de lixo e melhora o
tráfego. Além das vantagens ambientais, o sistema proporciona um melhor
aproveitamento do espaço urbano", afirma Carlos Vazquez, chefe do Departamento
de Gestão de Resíduos da prefeitura local.
O bairro de Lesseps, no distrito de Gràcia, adotou a coleta a vácuo
recentemente, em 2009. O presidente da associação de moradores, Josep Maria
Flotats, é um dos entusiastas do sistema, que atende 5,6 mil pessoas em Lesseps.
"O bairro está mais bonito, limpo e sem odores. Não há mais acúmulo de lixo
pelas ruas à espera dos caminhões de coleta, cuja ausência também tornou o
bairro menos barulhento", conta o barbeiro de 65 anos, que organizou uma visita
à central de coleta para os moradores no fim do ano passado. "É importante
mostrar à população para onde de fato está indo o lixo que ela produz. Todos
ficaram satisfeitos."
O vice-presidente da Envac Iberia, Albert Mateu, que administra os sistemas
na Espanha e em Portugal, afirma que a coleta a vácuo deve cobrir 70% de
Barcelona até 2018, ano em que a empresa espera concluir as outras redes de
coleta projetadas para a cidade. "Infelizmente, não é possível chegar a 100% por
conta de alguns bairros com pequenas colinas e irregularidades no terreno, que
inviabilizam a instalação dos dutos", explica.
Barcelona instalou o primeiro sistema de coleta subterrânea para os Jogos
Olímpicos de 1992. O sistema criado para a vila olímpica construída com
tecnologias sustentáveis no bairro Poblenou, a noroeste da cidade, atende ainda
hoje a 4,4 mil residências. O exemplo da vila deu origem às outras sete redes de
coleta, que, 18 anos depois, beneficiam aproximadamente 324 mil moradores.
Eficiente e caro. Segundo Mateu, a instalação da Envac tem quatro grandes
turbinas que evitam obstruções na tubulação. Quando ocorrem, os problemas são
logo identificados por uma central computadorizada que monitora todos os
trajetos. "No caso de entupimento, acionamos as turbinas. Com o ganho de poder
de sucção, em 90% dos casos desobstruímos o cano." Nas demais emergências, o
problema é resolvido manualmente.
O sistema é eficiente, mas não barato. Já foram investidos 156 milhões em
Barcelona. A instalação de uma rede capaz de atender a 18 mil famílias custa, em
média, 50 milhões.
Vasquez explica que o financiamento é feito de duas formas. Em áreas de
urbanização nova ou recente, a iniciativa privada banca o equivalente a 57% do
custo. Em áreas urbanas já consolidadas, o financiamento público chega a 92% do
total. "O investimento público também vem de fundos (da União Europeia)."
De acordo com Fábio Colella, gerente comercial da Envac no Brasil, o sistema
diminui o custo da coleta entre 30% e 40%. "O investimento é alto, mas
compensado a longo prazo."
Apesar de parecer inovador, o recolhimento subterrâneo de lixo a vácuo existe
desde 1961, quando foi instalado para atender a um hospital na cidade sueca de
Sollefteå. Desde então, começou a ser aplicado em outras partes do país, mas só
ganhou novos mercados na Europa a partir dos anos 90. "Acredito que o sistema
ganhou visibilidade quando a gestão das cidades passou a ser pensada sob um
ponto de vista sustentável", afirma Colella.
NO BRASIL
Brasília, que abriu licitação para mudar a coleta de lixo, pode ser a
primeira cidade do País a ter um sistema a vácuo subterrâneo. "Vamos apresentar
o projeto ao governo distrital e disputar licitações", diz o gerente da Envac no
Brasil, Fábio Colella. Segundo ele, o projeto poderia ser inaugurado já em 2011.
Colella diz que, desde 2007, a empresa estuda trazer a tecnologia a cidades como
São Paulo e Rio. ( do estadão ).
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