Os vinhos elaborados no submédio do Vale do São Francisco,
região localizada entre a Bahia e Pernambuco, com as variedades
Syrah, Tempranillo e Petit
Verdot possuem, respectivamente, quantidades de trans-reverastrol 6, 3
e 2 vezes mais que o mesmo produto de origem francesa, espanhola ou argentina.
Pesquisas na área de medicina revelam que essa substância tem ação
anticancerígena e preventiva de doenças
cardiocirculatórias, segundo informações da Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
Nas parreiras, o
trans-reverastrol tem a função de proteger as plantas de determinados
tipos de estresses físico e ambiental. Nas áreas de cultivo do semiárido
brasileiro, a prática de interromper a irrigação em um ambiente de alta
temperatura, quando os frutos estão próximos ao ponto de colheita, faz com que
as plantas acelerem seus mecanismos de defesa e produzam mais compostos de
interesse biológico como trans-resveratrol, quercetina e
rutina. Os resultados fazem parte dos estudos obtidos pela
professora da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Luciana Lima, em
sua tese de doutorado.
Tipicidade
De acordo com o enólogo da Embrapa, Giuliano Elias Pereira, o clima
quente e seco da região pode explicar a diferença na concentração
desses elementos químicos entre os vinhos do semiárido e
aqueles processados nas zonas de temperatura mais amena da Europa, dos Estados
Unidos, da Argentina e mesmo do Rio Grande do Sul.
Para ele, nos
percentuais em que são encontrados leva-se a crer que o consumo de
vinhos tropicais do Brasil poderá ser mais benéfico à
saúde do que outros tipos de vinhos elaborados nas zonas tradicionais
de produção, de clima temperado. “Um produto com potente ação antioxidante,
capaz de transformar o mal (LDL) no bom (HDL) colesterol, tem um apelo comercial
capaz de dar grande evidência aos vinhos do vale do São Francisco”, afirma
Pereira.
A região já é marcada por uma situação que é única dentre todas
as áreas vinícolas ao redor do planeta: é a única onde a
combinação de ambiente e desenvolvimento tecnológico tornou possível a produção
de uvas e a elaboração de vinhos em qualquer época do ano, com características
distintas de qualidade e tipicidade.
Geografia
A possibilidade cria uma situação também muito distinta da europeia e das
zonas vinícolas das Américas do Norte e do Sul. Em países como a França e a
Argentina, por exemplo, os enólogos em 30 anos de vida profissional chegam a
elaborar 30 vinhos. No submédio do vale do São Francisco, um mesmo profissional
pode elaborar esta mesma quantidade em apenas um ano, por ser possível escalonar
a produção, entre os meses de maio e dezembro, e realizar colheitas uvas e
vinificar todas as semanas e todas as quinzenas.
A
vitivinicultura é uma atividade de crescente importância no negócio
agrícola do semiárido brasileiro. Com seis vinícolas instaladas, a produção na
região já representa 18% do mercado nacional de vinhos finos. É a segunda maior
do país, atrás do Rio Grande do Sul.
A presença de compostos como o
trans-resveratrol, quercetina e rutina nos vinhos das variedades Syrah,
Tempranillo e Petit Verdot, registrada por métodos científicos em laboratórios
da Embrapa e das Universidades Federais em Pernambuco (UFRPE e UFPE), é base
para caracterização física, química e sensorial. Segundo Giuliano Elias Pereira,
são informações que valorizam uma identidade regional e favorecem a adoção de
mecanismos como a Indicação Geográfica de Procedência dos
vinhos do vale
( do globo rural ).
Nenhum comentário:
Postar um comentário